Switch 2

Na Nintendo, “todo desenvolvedor é um diretor”: ex-funcionário revela bastidores da filosofia da empresa

Imagem: Reprodução/Nintendo

O veterano da indústria Motoi Okamoto, hoje conhecido por seu trabalho como produtor da série Silent Hill na Konami, chamou a atenção ao compartilhar nas redes sociais alguns relatos de seus anos na Nintendo. O desenvolvedor trabalhou quase uma década na gigante japonesa, participando de projetos de peso como New Super Mario Bros. e Super Mario 64 DS, e descreveu como funciona a curiosa cultura interna que ajudou a moldar alguns dos maiores sucessos da empresa.

Em meio a um debate recente entre criadores japoneses no X (antigo Twitter) sobre o papel dos diretores de jogos, Okamoto foi direto: na Nintendo, decisões não são tomadas no papel, mas na prática. “Tenho visto gente dizendo coisas como ‘um diretor que precisa implementar algo para julgar se é bom ou ruim é incompetente’. Mas na Nintendo, implementar e testar é justamente o que importa. Eles não decidem apenas no papel”, contou.

Segundo ele, isso significa que não existe espaço para desculpas: “Programadores que são preguiçosos em implementar coisas, ou gerentes de projeto que tentam evitar o processo de tentativa e erro usando prazos e orçamentos como justificativa, são removidos da equipe sem hesitação.”

O ponto mais curioso do relato de Okamoto é a noção de que, dentro da Nintendo, cada desenvolvedor tem liberdade criativa para melhorar o jogo. “Se um programador acha uma especificação entediante, ele pode simplesmente implementar da forma que acredita ser divertida. Isso é o que um programador profissional faz”, afirma. Essa abordagem reforça que, no ambiente da Nintendo, o que vale é conseguir avaliar a diversão mesmo em versões simplificadas, sem gráficos elaborados. “Se você não consegue julgar se uma mecânica é divertida com gráficos básicos, pode ser considerado incompetente.”

Para Okamoto, o grande risco de sufocar a inovação está justamente em críticos e especialistas que querem pular o processo de experimentação. “O mais importante é não hesitar em testar até mesmo especificações que pareçam absurdas à primeira vista”, explica.

Ele cita Shigeru Miyamoto e o saudoso Satoru Iwata como exemplos de líderes que, mesmo sendo tratados como “sábios” na indústria, mantiveram uma postura prática e humilde, sempre dispostos a experimentar na base do teste de jogo. Para Okamoto, o contrário disso — acreditar que é possível prever sem construir nada — seria pura arrogância.

Okamoto deixou a Nintendo em meados dos anos 2000, mas sua experiência na empresa marcou profundamente sua visão sobre como jogos devem ser criados. Após sair, passou por outros estúdios até se estabelecer na Konami — e sua trajetória mostra como a filosofia prática da Nintendo continua influenciando seu modo de enxergar o processo criativo em qualquer gênero.

Eduardo Jardim

Natural de São Paulo (SP), Eduardo "Pengor" Jardim é um criador de conteúdo, ilustrador e imaginauta. Criou o Reino do Cogumelo em 2007 e desde então administra e atualiza seu conteúdo, conquistando dois prêmios Top Blog e passagens pela saudosa Nintendo World.

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