Entrevista com Mojo Nixon, o "Sapo" do filme Super Mario Bros. (1993), revela detalhes dos bastidores da produção


A crítica pode falar o que quiser, mas é fato consumado que o filme de 1993 Super Mario Bros., dirigido por Rocky Morton e Annabel Jankel, hoje é considerado um fenômeno cult, mantendo firme seu posto na história do cinema e dos videogames. Prova disso é a média de 100 mil acessos únicos por mês contabilizados pelo website Super Mario Bros. The Movie Archive, dedicado a coletar e fornecer informações raras sobre o desenvolvimento e os bastidores da produção do longa-metragem.

Pode-se dizer que o Reino do Cogumelo e o Super Mario Bros. The Movie Archive sempre caminharam lado a lado. Ambos os veículos foram fundados em 2007 e possuem registros de colaborações ao longo dos anos. A mais recente, que você confere logo abaixo, é a tradução oficial para português da entrevista exclusiva realizada pelo fundador Ryan Hoss com ninguém menos que Mojo Nixon, o músico americano de psychobilly que deixou sua marca na franquia Mario ao interpretar a versão live-action do Toad — ou, como erroneamente batizado pelo extinto estúdio Megassom, responsável pela dublagem do filme, o "Sapo"!

Você sabia que ele sofreu um ferimento durante a cena das gaiolas? E que, até hoje, ainda recebe royalties pelas canções executadas durante o filme? Então fique a seguir com a entrevista na íntegra com o intérprete do saudoso e infortunado menestrel de Dinohattan, Mojo Nixon!


Ryan Hoss: Então, vamos começar.
Mojo Nixon: Beleza, cara. Bom, eu cheguei lá, na Carolina do Norte — Wilmington. Eles me levaram para o set e eles tinham acabado de filmar algo muito complicado na noite anterior, uma maluquice envolvendo carros. E Rocky [Morton], o diretor, estava sentado numa mesa de piquenique com as mãos na cabeça; não sei se ele estava chorando — mas realmente era como se seu cachorro tivesse sido atropelado.

Ryan: Uau...
Mojo: E eu não sabia onde ela [Annabel Jankel] estava, não consigo lembrar o nome dela agora, mas sim, ele estava lá, sentado — e parecia que, além disso, ou no dia anterior ou no dia seguinte, eles demitiriam o diretor de fotografia. E o Rocky provavelmente queria a demissão dele, mas sabe, eles não queriam.

Ryan: Sim...
Mojo: Sabe, e tinha uma coisa... qual era mesmo o nome do produtor? Roland?

Ryan: Roland Joffé?
Mojo: Sim. Eu fui a uma festa na casa dele e ele me contou algumas coisas; ele tinha uma visão maluca para o projeto todo. A visão dele era quase como O Mágico de Oz. Mas havia muita pressão — provavelmente vinda do estúdio. Ele tinha essa ideia onírica, meio mágica, que o estúdio queria conectar com o videogame.

Ryan: É, o roteiro era originalmente mais voltado para a fantasia, mas foi completamente retrabalhado para tornar-se aquele tipo de Blade Runner que acabou sendo.
Mojo: É. Isso, isso. Eu acho ele me disse isso depois, ou durante a produção. Sabe, eu deveria trabalhar apenas por cerca de quatro dias, mas eles eram tão... [risos] eram tão desorganizados — eu fiquei lá por um mês! Mas tudo bem, sabe? Eu fui pago, então o Mojo estava feliz. [risos]

Ryan: Sim! Bem, nos primeiros rascunhos daquele roteiro, o seu personagem, o Toad, tinha um papel muito maior dentro do filme.
Mojo: Oh, droga! [risos]

Ryan: [risos] Pois é! Quer dizer, ele basicamente ajudaria os irmãos Mario — era o Toad e outros dois, os primos do Koopa, e vocês basicamente acompanharam os irmãos Mario e os ajudaram por todo o resto do filme.
Mojo: Ah. Bom, eu fui transformado num lagartão pelo Dennis Hopper. [risos]

Ryan: Exatamente. Exatamente! E então...
Mojo: Deixa eu te contar sobre essa cena: eu deveria agir como se estivesse com medo do Dennis Hopper. Bem, quando ele finalmente ligou toda aquela loucura típica de Dennis Hopper, eu nem precisei atuar — eu estava assustado, aquele maluco é brabo! [risos]

Ryan: [risos] Sim! E como era a câmara de regressão? Se parecia com uma autêntica câmara de tecnologia ou não passava de "magia do cinema"?
Mojo: Era tudo magia do cinema. E isso foi parte do motivo pelo qual eu tive que retornar tantas vezes. A certo ponto — e eu não estou inventando! —, eu tinha que fazer um voo para fora de Myrtle Beach, e eles literalmente mandaram um cara para parar o avião e me trazer de volta, porque tínhamos que refazer algumas filmagens de tela azul. E eu perguntei para o cara, "o que é que você ia fazer?", e ele respondeu, "eu ia ficar parado na pista se fosse necessário!" Ele [o diretor] enviou um assistente de produção, porque eu achei que já tínhamos terminado tudo depois de duas semanas, e acabou que algumas cenas de tela azul não tinham funcionado da forma que eles queriam. Tela azul ou tela verde, não lembro qual estavam usando.

Ryan: Certo.
Mojo: O problema era que, sabe, eu estava lá com o Dennis Hopper. Eu tinha me encontrado com ele e estava muito empolgado — mas estava exagerando na atuação. E o Bob Hoskins me disse: "olha, diminua o tom. Eles não vão fechar nada até a tomada seis. Tudo que for gravado antes da tomada seis será para acertar a iluminação, os ângulos e as câmeras". Ele disse, "não faça nenhuma atuação [até lá]. Quando você me vir atuando, aí sim você atua. Mas só metade do que você tem feito". [risos] E o negócio é que o Dennis Hopper estava lá só por estar, porque ele sabia disso, também — ele sabia que eles não iam fechar. Então, quando ele ligou [a loucura típica de Dennis Hopper], eu fiquei assustado de verdade.

Ryan: [risos] Bem, você teve que enfiar a cabeça na câmara de regressão — que se parecia mais com uma betoneira...
Mojo: Pois é, sabe, eu fiquei um pouco... eu estava conversando com todos os dublês por lá e perguntei, "essa coisa vai quebrar o meu pescoço?", e eles responderam, "eu espero que não". [risos]

Ryan: Sim, com sorte!
Mojo: É, porque eles me colocaram lá, e então o assento se levantava para eu entrar ali. Bom, eu pensei, "e se o assento subir demais?". Sabe, eu tenho um cabeção — preciso de um certo espaço de manobra nessa coisa! E eu estava recebendo roteiros diferentes todas as noites, e o processo todo...


Ryan: Sim, houve reescrituras constantes.
Mojo: Sabe, você escuta histórias de Casablanca, sobre como eles enviavam as páginas todas as noites. Então, às vezes, isso funciona. E às vezes ninguém sabe o que realmente está acontecendo no filme. Mas sim, houve uma tremenda quantidade de tensão e pressão, porque ninguém sabia exatamente o que é que estava acontecendo. Digamos que alguém estava gastando dois milhões de dólares por dia em uma fábrica de cimento nos arredores de Wilmington. [risos] É melhor que o filme aconteça!

Ryan: Certo, certo. Então, a cena onde você é regredido para uma criatura Goomba — no filme, é como se você [Toad] fosse regredido, e depois eles te levam embora, e então há um corte no filme — e então, há uma grande poça de gosma verde no chão. Nós não conseguimos confirmar isso, mas parece que houve um tipo de cena em que outro personagem também foi regredido para uma gosma ao invés de uma criatura Goomba.
Mojo: Bem, esse negócio de gosma em todo o lugar, talvez se você ler o material original da fonte, isso até possa fazer sentido — mas, para nós, nada disso fazia sentido. Na melhor das hipóteses, era uma conexão tênue com a realidade, mesmo na lógica interna do roteiro. Eu não conseguia acompanhar nada disso, o que deveria acontecer, nem nada disso. Eu só sabia fazer conforme o Dennis Hopper gritava, "faça uma cara assustadora!" [risos]

Ryan: Certo, isso é tudo em que você podia se concentrar!
Mojo: Pois é, isso mesmo. E também, uma coisa inteligente que eu fiz foi, sabe aquelas duas músicas que cantei? Eu as registrei.

Ryan: Entendo, foi você que fez?
Mojo: E ainda estou ganhando dinheiro! Inclusive, tenho um cheque aqui — já faz quanto tempo?

Ryan: Foi em 1993.
Mojo: Deixa eu ver. [Mojo observa alguns cheques por um tempo] Eu tenho um cheque aqui mesmo, de cinco dólares e oito centavos. [risos]

Ryan: Uau, os pagamentos dos royalties ainda estão chegando...
Mojo: Ainda estão chegando!

Ryan: Então, foi você quem criou essas músicas?
Mojo: Eu criei essas músicas, e eu comprei um violão — o violão que eu toco [no filme] é uma réplica exata de um dos meus próprios violões, que eu trouxe comigo. O cara dos adereços dizia, "temos que fazer uma [réplica], caso precisemos refilmar ou algo assim — então, vamos fazer um igual ao seu". Ele conhecia um guitarrista em Los Angeles — era uma Gibson L2 ou algo assim.

Ryan: Então, esse era o seu violão e você o levou de volta?
Mojo: Não, eles pegaram um igual. Eles tiveram que replicar o violão — queriam ter um de reserva caso algo acontecesse. Porque todo mundo tinha medo de não poder refilmar, todo mundo tinha medo de não poder consertar uma cena. Então, se eles não pensassem em todas as coisinhas, não ia funcionar.

Eu pensei sobre algo que fiz e que achei genial, tocar gaita — e eu estava deitado de bruços enquanto o fazia! [risos]

Ryan: [risos] Sério? Então, quantas tomadas foram necessárias nessa cena?
Mojo: A cena da gaita? Levou um tempo. Aquelas gaiolas em que estávamos haviam sido soldadas umas às outras, e tinha alguma coisa afiada — eu cheguei a me cortar, havia sangue, e tinha os caras na gaiola embaixo da gente; pois é. Tivemos que subir e descer [das gaiolas] usando um tipo de guindaste. Então, eles não queriam tirar a gente da gaiola, mas tivemos que esperar quinze minutos para recarregar a câmera ou algo assim.

Ryan: Uau.
Mojo: Deu muito trabalho. Eu estava fazendo por merecer o meu dinheiro! [risos]

Ryan: E fez! Naquela cena, nas jaulas, é como se seu personagem fizesse o papel do "policial da trama": você basicamente senta lá e explica tudo.
Mojo: Isso, isso. Eu adianto o enredo. Outro dia, eu vi algo sobre o Steve McQueen — quando havia esse tipo de diálogo expositivo, ele sempre queria que fosse dito por outra pessoa. "Bem, deixe que ele o diga, e eu vou reagir". Porque as pessoas vão sempre prestar atenção no Steve McQueen e não em alguém que diga, "vamos de A para B, de B para C e de C para D".

Essa coisa toda de Super Mario Bros., sabe, as crianças provavelmente o alugavam barato nas locadoras locais, porque sempre era exibido nas tardes de sábado nas emissoras de TV. As crianças — as crianças pequenas, em particular —, sempre vinham até mim e diziam, "ah, eu vi você em Super Mario Bros.".

Ryan: Sim, bem, parece que quanto mais os anos passam, mais o filme se torna um clássico cult. Depois que foi lançado, a recepção não foi tão boa e foi meio impopular, mas quanto mais os anos passam, mais cult e popular o filme fica nesse sentido.
Mojo: É tão doido; assim como muitos filmes, ele representa um tempo e um lugar. Quando você era criança, era algo que você assistia. Não dava nem para acreditar que isso sequer tenha sido feito — veja bem, o que o Dennis Hopper e o Mojo Nixon estão fazendo juntos nesse negócio? E o John Leguizamo — aqueles diálogos cômicos, estilo off-Broadway, da zona leste [de Nova Iorque], é muito louco!

Ryan: Sim, parecia haver muitas cabeças tentando criar uma visão e fazê-la funcionar de alguma forma, mas era visível que havia algo lá que as impedia de realizar o que realmente planejavam.
Mojo: Bem, eu acho que, nesse tipo de filme, a certo ponto, você tem que tomar uma decisão: "eu vou fazer um filme bom?", ou, "eu vou deixar o pessoal dos videogames feliz?". Eu acho que a melhor decisão seria, "eu vou fazer um filme bom, e eu vou fazer referências ao videogame". Porém, se é do videogame que o dinheiro vem, então é difícil fazer isso, sabe?

Ryan: Exato, exato.
Mojo: Tinha também um monte de coisas malucas envolvendo carros e foguetes, e todo esse clima de "Blade Runner barato", se você preferir — e essas coisas exigem muito conhecimento técnico para que tudo seja realizado, e eu não tenho certeza se os diretores tinham isso. Você precisa ter uma segunda equipe, uma segunda unidade para filmar todas essas coisas e depois inserir toda a atuação.

Ryan: Pois é. E o que você achava dos diretores? Você sabe se eles ficaram juntos no projeto até o fim?
Mojo: Então, eles ainda estavam lá quando eu saí, mas estavam sob enorme pressão; eles tinham demitido o diretor de fotografia. A fofoca que rolava era que deveriam ter demitido os diretores, mas não sabiam por quem substitui-los. Era como um trem maluco e desgovernado. Como eu disse, eu acho que alguém chegou a me dizer, "você está gastando dois milhões de dólares ou algo assim em um só dia... depois de dois meses, precisamos que um filme aconteça".

Ryan: Sim, uau... acho que a pressão aumenta quando você lida com esse tipo de coisa.
Mojo: Isso, e como eu disse, tinha muitas coisas técnicas também — existem equipes que sabem como fazer esse tipo de coisa em um filme do Bruce Willis. Esses caras não foram necessários lá, e eu nunca tive a impressão de que seriam [necessários em] um filme como esse. Mas quando você tenta fazer aquelas acrobacias gigantes e elaboradas, um milhão de coisas pode dar errado.

Ryan: É, ouvi dizer que Bob Hoskins foi eletrocutado em uma cena por acidente.
Mojo: Pois é, sabe, ele tinha muito aquela coisa de "o show não pode parar". Era como um ator britânico de Vaudeville — algo como, "estou chegando, é melhor que a sua câmera esteja preparada". [risos]

Ryan: Uau. Então, voltando ao início [da entrevista], como foi que você se envolveu no projeto?
Mojo: Eu conhecia uma garota, ela era parte do elenco de figurantes. O nome dela é Lisa Mae Fincannon e ela morava em Wilmington. Ela tinha se casado com um diretor de elenco de figurantes. Eu a conheci através das bandas de um filme em Athens, na Geórgia — a banda "The Flat Duo Jets" —, e ela esteve envolvida em um documentário que eu participei. Eu a conheci, ela me ligou e disse, "olha, eles querem o Tom Waits, mas eu disse a eles que posso conseguir você pela metade do preço". E de fato, a frase dela foi, "eles disseram que precisamos do Tom Waits para esse papel, mas ele quer muito dinheiro". Em seguida, ela disse, "bom, eu posso te arranjar um Tom Waits de quinta categoria — e pela metade do preço!" [risos]

Ryan: [risos] Bem, como você já dizia, muitas pessoas, como eu, inclusive, ficaram sabendo quem você era através deste filme.
Mojo: Sim, e foi assistido por muito mais pessoas do que eu pensava que seria, e acho que a verdade é: muita gente o assistiu depois. Porque, como eu disse, alugar Star Wars para exibir em sua estação de TV local ou canal pago custa um zilhão de dólares. Então, se de um lado havia Star Wars e Apocalypse Now, no outro, havia Super Mario Bros. e A Fera do Rock. Então, eles eram exibidos o tempo todo nos canais de TV mais desconhecidos, nas tardes de sábado, ou nos canais de TV a cabo mais desconhecidos — e daí, muita gente assistiu. É aquele momento quando você se senta e pensa que deveria estar trabalhando ou estudando, mas acaba assistindo Super Mario Bros

Ryan: [risos] E foi isso que eu fiz! Bom, [o estúdio de cinema] era uma ramificação da Disney, então passava em canais como o Disney Channel. A única coisa que não gosto é que, agora, mesmo estando em DVD, não é um lançamento muito bom. Acho que isso é algo que pode ser esperado para um filme como este, mas quanto mais ele vai se tornando um clássico cult, mais você quer uma versão melhorada dele — e ainda não existe, entende?
Mojo: Bom, eu não tenho certeza; e também, não sei se faria mais sentido ou seria melhor se fosse reeditado. Pode ficar diferente. [risos] Como eu disse antes, eu não sei se havia uma lógica interna no roteiro. Não é muito diferente de À Beira do Abismo: a certo ponto, Humphrey Bogart e Howard Hawks [produtor] ligaram para Raymond Chandler [autor original] para perguntar a ele quem havia matado tal personagem, e ele não conseguia se lembrar — ele não sabia dizer. Porque eles também estavam confusos; acho que esse mesmo nível de confusão interna estava acontecendo em Super Mario Bros.

Ryan: Certo. Bem, você conhece alguma cena importante que tenha sido deletada ou coisas que simplesmente não estão presentes no filme? Acabou tendo cerca de uma hora e quarenta minutos de duração, mas, segundo a minha pesquisa, parece ter havido muitas cenas deletadas.
Mojo: Acho que muitas destas não foram nem filmadas. Não tenho certeza, mas, sim, eu li um roteiro — o primeiro roteiro que eu li era muito maior e tinha todo o tipo de fantasias malucas, com prelúdio, poslúdio, e tudo o mais. Acho que assim que chegaram lá, e todo mundo colocou as fantasias malucas, e eles filmaram algumas cenas de acidentes de carro, então eles pensaram, "uau... sabe, nós estamos muito envolvidos, é melhor a gente colocar a mão na massa". Porque, como eu disse, eu deveria ficar lá por uma semana, e acabei ficando por um mês. E eles literalmente mandaram um cara para ficar parado na frente do avião em Myrtle Beach para garantir que eu não fosse embora — porque eu tinha que fazer toda aquela coisa onde a minha cabeça se transforma do Toad para um lagarto. Eles tiveram que gravar aquilo umas quatro vezes porque havia um problema, algum processo especial com as câmeras e a tela azul, que, de certa forma, não estava funcionando.


Ryan: Sim, aquela cena parece ser uma das maiores mudanças no filme. É quase como se eles não tivessem certeza do que queriam fazer com ela. Nos primeiros rascunhos, como eu disse, o seu personagem nunca é transformado num Goomba; ele acompanha os irmãos Mario pelo resto do filme e o Goomba é um personagem diferente que faz as mesmas coisas que o seu personagem no filme final.
Mojo: E sabe, tem uma cena em que você vê um dos Goombas com um suporte de pescoço para gaita...

Ryan: Sim, e ele tem o mesmo corte de cabelo.
Mojo: É, ele tem aquele corte de cabelo maluco! Eu vou contar sobre isso, sobre o cabelo. A minha mãe tem uma casa em Holden Beach, na Carolina do Norte, que é cerca de quarenta milhas de onde foi filmado, em Wilmington; então, a minha família já tinha planejado ficar lá naquela época. Daí, meu filho mais velho, "a fera", queria fazer o mesmo corte. Então, outro dia, eu levei ele para o set, e tínhamos bastante tempo livre, então a moça que fez o meu corte [nota do editor: Michelle Johnson] também fez nele! Bom, a avó dele não ficou feliz. [risos] Ela até parou de falar comigo — ela ficou brava comigo, mas brigava com ele! [risos] Eu também tenho outro filho, que é uns onze anos mais novo. Quando ele fez cinco ou seis anos, ele queria ter o mesmo corte! Nós temos uma foto do set, comigo e meu filho mais velho, os dois com o mesmo corte de cabelo, e acabou que meu terceiro filho também ganhou o mesmo corte.

Ryan: Então aquele corte de cabelo foi algo decidido pelas pessoas do set?
Mojo: Sim, foi algo feito pela equipe de cabelo e maquiagem. E sabe, tinha aquele cara no filme, Fisher Stevens. Na época, ele estava saindo com a Michelle Pfeiffer. Nós passamos horas fazendo esses cortes de cabelo doidos, então a gente passava horas sentados um perto do outro no trailer de cabelo e maquiagem — e nunca nem sequer ele mencionou isso! [grito] Eu teria até mesmo vestido uma camiseta! Eu teria feito um Bat-Sinal, qualquer coisa! Sabe, não fazia muito tempo que ela havia feito Batman: O Retorno. Acho que é por isso que ela gostava dele, porque ele não tocava no assunto — e isso provavelmente pode ter ajudado. Mas, sim! Eu li mais tarde sobre "o namorado secreto de Michelle Pfeiffer: o ator, comediante, produtor, escritor, Fisher Stevens". [grito] Hã?! Como assim?! A gente se sentava e conversava sobre Nova Iorque, sobre beisebol e os New York Dolls, e ele nem sequer menciona estar namorando com a Michelle Pfeiffer?!

Ryan: É, é tipo, "eu achava que éramos amigos!"
Mojo: Pois é! Cara!

Ryan: Você já é a nossa terceira entrevista; mas na verdade, o primeiro ator que entrevistamos. Eu entrevistei um dos caras [Mark McCoy], que trabalhou no fungo, e depois Jeff Goodwin, o principal maquiador do filme, e ele me deu algumas fotos. É engraçado você mencionar os salões de estética — porque em uma das fotos, Fisher Stevens e Dennis Hopper têm seus cabelos penteados, e o Dennis Hopper deve ter contado algum tipo de piada, porque todo mundo estava rindo, com a mão para cima e tudo o mais — é muito hilário.
Mojo: Sim, estar lá era uma experiência muito louca; quando você está no meio de alguma coisa assim, você não sabe o que vai acontecer. Eu nunca participei de um filme bom, mas ouvi dizer que você provavelmente consegue dizer quando está em um. Eu tenho certeza de que muitos atores, da mesma forma quando você está gravando, pensam, "isso vai ser bom" ou "isso vai ser um sucesso". Mas acabou não sendo, por algum motivo. Quer dizer, não foi um sucesso, foi?

Ryan: Bem, foi o primeiro filme baseado em um videogame, e parecia que ninguém sabia ao certo o que fazer com ele, sabe?
Mojo: Isso. E eu também acho que... eu não joguei nenhum daqueles videogames. Eu já sou velho demais. Quando eu tinha dezoito anos, o Atari foi lançado, e nessa época eu já estava velho demais. Eu não joguei [os jogos do Mario] quando eu tinha uns doze anos. E por isso, sabe, os videogames não significavam nada para mim. Tenho certeza de que há pessoas que passaram metade de sua juventude no porão jogando esses games, e dessa forma, o filme acaba tendo um significado diferente.

Ryan: Sim, exatamente. Então você não tinha nenhuma familiaridade com os jogos antes de aceitar o papel?
Mojo: Quase nada. Meus filhos tinham, mas eu não gostava.

Ryan: Entendi. Então, você sabia sobre o seu personagem, em termos de como ele é no jogo?
Mojo: Não. Eu não sabia, não sabia coisa nenhuma. Eu sabia que eles haviam feito algumas figurinhas e eu estava em uma das figurinhas 3D... disso eu sabia. [risos]

Ryan: Sim! Sim, é muito legal!
Mojo: Eu não ganhei um action figure, mas ganhei um card 3D!

Ryan: Sim, eu sei. Um action figure teria sido legal. Eles fizeram action figures, mas acho que fizeram apenas alguns [personagens], não fizeram de todos.
Mojo: Ugh, que droga. Viu só, o bendito Star Wars monopolizando todos os bonequinhos.

Ryan: Pois é, exatamente! Bem, nos jogos, o seu personagem, Toad... aliás, tem o Mario, o Luigi, o personagem de Dennis Hopper — o Koopa —, tem a princesa, e tem você, o Toad. E também tem o Yoshi. Então, você é um dos poucos personagens principais de toda a série.
Mojo: Oh, eu nem tinha percebido!

Ryan: Pois é! Então, como eu disse, o personagem era definitivamente um produto de maior importância nos primeiros rascunhos.
Mojo: Bom, sabe, é um daqueles momentos em que eu só participo por quinze minutos, mas são os quinze minutos, sabe?

Ryan: Sim, você é o destaque naquela parte, porque você é como o catalisador para o resto do filme a partir desse ponto. Eles te encontram, você vai com eles, e como eu disse, explica todo o enredo e depois mostra a eles o que acontece com as pessoas quando elas se transformam nos outros personagens.
Mojo: Eu me lembro... acho que tinha uma cena onde estávamos na parte de trás de uma viatura policial ou algo assim, e o diretor me perguntava direto, "você está olhando para a câmera?". Eu dizia, "eu não devo olhar? Eu tô me exibindo para a câmera!". Ele disse, "não, você tem que olhar através da câmera...". "Oh, oh", eu estava olhando exatamente para a lente da câmera — a culpa é toda minha!

Ryan: [risos] Bom, e o que você achou do figurino que você tinha?
Mojo: Sabe, eles tinham um figurino diferentão reservado para mim quando eu cheguei lá. Mas me deixava muito gordo. A roupa, eu nem me lembro bem... tinha galochas de cano longo ou algo assim, não é?

Ryan: Bem, você tinha uma jaqueta jeans azul, um tipo de camiseta preta e outras peças jeans.
Moss: Eu pensei que em algum momento eu usei calças emborrachadas ou coisa assim... talvez fosse o traje original que eu não cheguei a usar. Mas eles tinham algumas maluquices — todas aquelas coisas eram malucas —, o cabelo, a maquiagem, as cenas, os cenários, o figurino, eles estavam "amalucando" tudo. E foi tudo de um jeito estranho, numa fábrica de cimento na zona rural da Carolina do Norte. Onde literalmente, ao sair dirigindo pelos portões da fábrica de cimento, havia uma barraca de tomate. Sabe, onde eles vendiam tomates caseiros.

E eu estava hospedado em Wrightsville Beach, eles tinham alguns apartamentos por lá. Eles haviam alugado todo um lote com condomínios ou casas germinadas, e eu estava hospedado lá, bem perto do píer em Wrightsville Beach. E eu costumava ver muitos membros do elenco... no bar... todas as noites... enchendo a cara. [risos]

Ryan: Uau, sério?
Mojo: Sim, porque tudo era muito... sabe, não dava para entender o que estava acontecendo. Não dava para descobrir quem estava no comando ou como consertar as coisas... era como estar dentro de um furacão. Bob Hoskins dizia, "é só abaixar a cabeça, ficar em posição, dizer as suas falas, e calar a boca."

Ryan: Uau... então você ficou por lá por cerca de um mês? Parece que outras pessoas também não tinham boas lembranças sobre as filmagens.
Mojo: Eu só acho que é frustrante quando eles mudam de ideia o tempo todo. É frustrante ter qualquer chefe que mude constantemente de ideia. Nós literalmente faríamos uma cena às seis da manhã, e às oito horas, faríamos uma cena diferente. E talvez às dez, ainda faríamos uma terceira cena. Então, com esse tipo de indecisão... digamos que, às onze da noite, nós ainda não fazíamos ideia do que aconteceria no dia seguinte. Mas tínhamos de estar lá às seis da manhã de qualquer jeito.

Sabe, isso é algo comum em muitos filmes, mas neste, foi muito mais frustrante — porque dava para perceber. Dava para perceber só olhando ao redor. As pessoas estavam surtando! [risos] Não precisava ser um gênio para descobrir que elas não faziam ideia do que estava acontecendo.


Ryan: Então, os dois diretores, Rocky Morton e Annabel Jankel, eram mesmo indecisos sobre as coisas?
Mojo: Eu não conheço eles de verdade, mas a impressão que eu tive é que eles deram um passo maior que a perna. E eles estavam sob muitos tipos diferentes de pressão, tanto do pessoal dos videogames, quanto do estúdio. E qualquer ideia que o Roland tinha colocado no roteiro original não estava acontecendo ali, e eles não sabiam exatamente o que fazer. Mas sabe, isso pode acontecer em vários filmes diferentes. E como eu disse, quando eu cheguei às sete ou oito horas, e eles já tinham trabalhado a noite toda... ele [Rocky] estava sentado em uma mesa de piquenique como se alguém tivesse morrido. Eu sabia que as coisas não estavam boas. E aí, no primeiro dia, estávamos gravando algo e ninguém fazia ideia de quem era o diretor de fotografia, porque eles tinham contratado um novo.

Ryan: Ah... então isso aconteceu enquanto você estava lá no meio de tudo?
Mojo: Sim.

Ryan: Eles chegaram a conversar sobre trazer o seu personagem de volta no final? Ele é transformado em um Goomba, você já se perguntou se eles quiseram trazer o personagem de volta — transformar ele de volta ao que era?
Mojo: Eu não me lembro — eu acho que eles tinham tantos problemas, que essa era a menor das suas preocupações. Mas como eu disse, eu filmei a maioria das coisas dentro de três ou quatro dias. Mas eles queriam que eu continuasse por lá... o que levou ao aumento de consumo de bebida. Olha, você é pago por dia! O que é que eu vou fazer?

Ryan: Pois é, não dá para fazer muita coisa. Então você teve que ficar por lá às vezes e acompanhar a filmagem de outras cenas?
Mojo: Ah, sim. E muitas das vezes, eu ficava lá, no trailer, tocando violão, conversando com o [John] Leguizamo, ou...

Ryan: Ah, sim, e como era o John Leguizamo?
Mojo: Ah, ele era muito legal. De certa forma, ele também ficou um pouco pasmo com aquela coisa toda. Ele estava acostumado a fazer monólogos de noventa minutos. Então, para ele, isso era algo um pouco diferente, sabe?

Ryan: Sim, parece ter sido algo diferente para todo mundo. Porque [algo assim] nunca havia sido feito antes, e parecia que eles realmente não conseguiram juntas todas as peças.
Mojo: Bom, isso faz parte do charme idiota da coisa toda... se você reparar, eles tinham muitas ideias, mas não tinham certeza de como iriam encaixá-las.

Ryan: O filme teve um final de suspense. Houve alguma conversa sobre uma possível sequência?
Mojo: Não, não que eu saiba. Além disso, eu me transformei em um lagarto gigante. [risos]

Ryan: Eu acho que eles poderiam ter transformado você de volta!
Mojo: Bom, eu também acho. Acho que gastaram muito dinheiro — não sei quanto eles gastaram. Quanto foi?

Ryan: Mais de quarenta milhões...
Mojo: Entendi. Eles não conseguiram o retorno financeiro. Se tivessem feito por cinco milhões, eles poderiam ter feito uma sequência. Mas não teria sido tão exagerada e louca. E quarenta milhões, era esse o motivo da pressão. Quarenta milhões era muito naquela época — e até hoje ainda é. Também, é muito dinheiro para gastar em um videogame. Hoje em dia... vi em algum lugar que Call of Duty vendeu o quê, umas duas milhões de cópias no primeiro dia?

Ryan: Sim, foi muita coisa.
Mojo: Então, sessenta dólares cada... é uma ideia inteligente transformar essas coisas em um filme, comercializá-lo e tudo o mais. Mas talvez aquele [filme de Super Mario Bros.] tenha sido um pouco precoce. Eles não sabiam o que estavam fazendo.

Ryan: O que você achou do filme na primeira vez em que assistiu?
Mojo: Bom, eu achei que eu me saí bem. [risos] Eu não tinha certeza do que pensar do resto — um, porque eu não joguei o game, e dois, porque eu não entendia o que eles estavam tentando fazer. Eu só fiquei feliz de contracenar com o Dennis Hopper. Ele está não somente em Apocalypse Now, não somente em Sem Destino... Dennis Hopper está no bendito Juventude Transviada! Isso não prejudicou a minha carreira de maneira alguma. Como se fosse possível! [risos]

Ryan: Você conseguiu levar alguma lembrança do filme ou coisa assim?
Mojo: Bom, eu tinha algumas coisas. Eu tive que fazer algumas mudanças e tudo ficou para trás. Tudo o que eu tenho agora é literalmente o card em 3D. A certo ponto, eu tinha caixas cheias de figurinhas. Porque isso fazia parte do acordo que eu fiz — eles disseram, "podemos usar a sua imagem?", e eu disse, "sim, mas você tem que me mandar cinco caixas lotadas [de figurinhas]"!

Ryan: Como eu disse, você é o primeiro ator que eu consegui entrevistar.
Mojo: Olha, sejamos sinceros: eu não sou um ator de verdade. Eu era um músico bêbado interpretando um músico bêbado. [risos]

Ryan: Bom, em um dos roteiros originais, você era um saqueador do deserto, onde tinha um abrigo para o qual levava os irmãos Mario para explicar um pouco mais sobre a história, passando a ajudá-los.
Mojo: Ah, no meu abrigo do deserto, sim!

Ryan: Então realmente parecia que você tinha um papel mais importante no começo — mas eles cortaram tudo.
Mojo: Pois é, filmar tudo isso teria custado mais quarenta milhões de dólares.

Ryan: Com certeza teria.
Mojo: Beleza, cara. Muito obrigado — estou ansioso para ver [a entrevista] no seu website.

Obrigado, Super Mario Bros. The Movie Archive, pelos direitos de tradução!
Eduardo Jardim

Natural de São Paulo (SP), Eduardo "Pengor" Jardim é um criador de conteúdo, ilustrador e imaginauta. Criou o Reino do Cogumelo em 2007 e desde então administra e atualiza seu conteúdo, conquistando dois prêmios Top Blog e passagens pela saudosa Nintendo World.

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