Um dos fundadores da AlphaDream, Chihiro Fujioka fala sobre o início da série Mario & Luigi


Um dos fundadores da AlphaDream, Chihiro Fujioka, cujo nome já era muito conhecido dentro dos escritórios da Nintendo devido à direção de Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars enquanto estava na Square, narrou em entrevista com Ben Hanson do canal MinnMax como foi o processo de criação da série Mario & Luigi.

Confira a transcrição traduzida pelo Reino do Cogumelo:

Ben Hanson: Você pode falar a respeito da transição da AlphaDream para a série Mario & Luigi? Foi simples, pelo fato da Nintendo já ter visto o seu trabalho e pensado, "essa equipe é digna de produzir essa nova aventura?

Chihiro Fujioka: Sim, depois de desenvolver Tomato Adventure, nós passamos para a criação da série Mario & Luigi. Então, era eu... que já tinha trabalhado em Super Mario RPG, mas tinha outra pessoa que também trabalhou naquele jogo: o diretor, [Yoshihiro] Maekawa-kun. E também tínhamos o retorno de [Hiroyuki] Kubota-san, podendo integrar todas as suas ideias no jogo. Kubota sentia que, se um outro título de RPG do Mario fosse produzido, ele deveria proeminentemente destacar o Luigi, também. Então nós tivemos essa ideia, a apresentamos à Nintendo, e ela foi aprovada.

Ben: Uau. A Nintendo conversou com vocês sobre criar um outro RPG do Mario antes disso?

Fujioka: Mario & Luigi foi uma ideia que conceitualizamos na AlphaDream e levamos à Nintendo. Na verdade, a Nintendo não nos conduziu à produção de um novo título de RPG.

Ben: Vocês queriam torná-lo diferente de Super Mario RPG porque não estavam mais na Square? E pensaram algo como, "isso é coisa da Square"?

Fujioka: [Risos] Sim, pode-se dizer que sim, mas acho que a graça da série Mario & Luigi é que, se você vai dispensar todo esse esforço na produção de um novo RPG do Mario, ele deveria definitivamente destacar tanto Mario quanto Luigi, e foi mais ou menos assim que a ideia deslanchou.

Ben: Como eram as reuniões na Nintendo? Você voltou para o escritório e eles disseram, "oh, nós lembramos de você!"?

Fujioka: [Risos] Então, eu não me recordo com precisão como foram as primeiras reuniões, mas eles sabiam que eu tinha me destacado ao criar o Super Mario RPG — então eu acho que já havia um elemento de confiança entre eles e nós em termos de fazer o projeto acontecer.

Ben: Você pode comparar o envolvimento da Nintendo no primeiro Mario & Luigi em relação a Super Mario RPG?

Fujioka: Na verdade, tanto para Super Mario RPG quanto para Mario & Luigi, o nível de envolvimento da Nintendo foi bastante similar. Tudo o que eles fizeram foram as verificações finais antes do lançamento e muitas das ideias que foram especificamente inseridas em ambos os jogos foram criadas dentro dos próprios estúdios de desenvolvimento.

Ben: Você sentiu que estava se safando de algo sorrateiro? Como, "ah, nós temos permissão de fazer coisas bem esquisitas em Mario & Luigi"!

Fujioka: [Risos] Sim, na verdade, ficamos um pouco preocupados com relação à direção que nós tomamos com o Luigi, mas no fim das contas, a Nintendo, sabe, permitiu que nós seguíssemos em frente com as ideias que tínhamos para ele.

Ben: Então, a equipe era apaixonada pelo Luigi e estava pressionando para que ele ficasse cada vez mais esquisito? Foi basicamente assim?

Fujioka: Eu diria que sim, provavelmente porque é um RPG no qual estavam dispostos a concordar com [as ideias para] o Luigi.

Ben: Como foi o clima do desenvolvimento da série Mario & Luigi? Como isso mudou o clima geral da AlphaDream?

Fujioka: Acho que a equipe se divertiu trabalhando no jogo, porque este era obviamente um título muito importante com o qual trabalhar, então eu acho que isso realmente levantou o humor das pessoas na empresa. E muitos dos designers e artistas da equipe eram fãs da Nintendo e dos jogos do Mario, então eu acho que realmente gostaram de trabalhar na série.

Ben: Estou tentando entender como era o sentimento da equipe porque parecia que eles se orgulhavam de serem jovens, experimentais, diferentes... e com o tempo, tornaram-se algo como "o estúdio que só faz o Mario & Luigi". Parecia muito confinante?

Fujioka: Sim, de fato, nós acabamos nos tornando apenas "a empresa que fazia os jogos de Mario & Luigi", mas no começo essa não era a intenção. Ao trabalhar no primeiro jogo, nós não pensávamos realmente que ele se transformaria em uma série, então, toda vez que um era finalizado, tínhamos que voltar à Nintendo e apresentar todas as ideias novas que nós tínhamos criado e ver se conseguíamos sinal verde para essas sequências. Para ser sincero, o primeiro jogo foi fácil de se conseguir, mas foi levando mais e mais tempo e esforço a partir do segundo jogo para conseguir as aprovações.

Ben: E por que acha que foi assim?

Fujioka: Eu diria que as coisas ficaram cada vez mais difíceis a partir do segundo jogo, porque tínhamos que continuar superando o jogo anterior. Sabe, eles tinham que ter novas ideias, tinham que ser mais interessantes e divertidos do que antes. E fica cada vez mais difícil tentar superar a si mesmo. Por isso, não poderíamos continuar fazendo a mesma coisa repetidamente.

Ben: Você estava envolvido nas reuniões da Nintendo?

Fujioka: Sim, tivemos que apresentar o jogo para a Nintendo todas as vezes, e das pessoas que estavam lidando com isso, havia um produtor na Nintendo com quem interagíamos no início do processo e Maekawa-kun era o principal representante da AlphaDream que liderava essas discussões; no final, quando chegasse a hora de aprovar ou rejeitar um projeto, é aí que [Shigeru] Miyamoto-san e [Satoru] Iwata-san chegavam e tomavam as decisões finais.

Mario & Luigi: Superstar Saga para Game Boy Advance viria a ser o primeiro de uma série de RPG turn-based muito querida pelos fãs. O título, que narra a história dos irmãos Mario contra uma terrível bruxa que assola o reino vizinho de Beanbean, ganhou em 2017 um remake expandido para Nintendo 3DS intitulado Mario & Luigi: Superstar Saga + Bowser's Minions — dois anos antes da desenvolvedora lamentavelmente declarar falência.
Eduardo Jardim

Natural de São Paulo (SP), Eduardo "Pengor" Jardim é um criador de conteúdo, ilustrador e imaginauta. Criou o Reino do Cogumelo em 2007 e desde então administra e atualiza seu conteúdo, conquistando dois prêmios Top Blog e passagens pela saudosa Nintendo World.

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