Os Jogos e a Arte

Duas vezes por semana, desenvolvedores diferentes atiram contra a Nintendo alegando a falta de atenção à arte. Primeiro foi Hideki Kamiya, diretor do Okami Clover Studio, que se refere ao The Legend of Zelda: Twilight Princess como "decepcionante" em execução artística. Em seguida, o desenvolvedor Spore Chris Hecker reclamou que a Nintendo não se preocupa com os jogos como uma forma de arte. Hecker chegou a argumentar que a Nintendo, diferente da Sony e da Microsoft, só queria fazer jogos "divertidos" (Hecker posteriormente se retratou sobre suas observações, mas visto que ele pode ter sido ordenado pelas forças acima, vamos supor que seu discurso retórico original é o que ele realmente pensa).

Verdade seja dita, de certa forma este é um debate antigo. A tensão entre arte verdadeiramente expressiva e arte que tem a atração das massas gerou debates agudos em formas como música, cinema, teatro e literatura. Como as falas de Hecker e Kamiya testificam, os jogos não são imunes a essa tensão. Em um mundo ideal, a maioria dos jogadores admitiriam que ambos estilo artístico e diversão sólida são os componentes essenciais de um bom jogo. Mas a Nintendo pode ser acusada justamente de negligenciar a arte somente para trazer o divertimento? E os jogos são, primariamente, um meio artístico?

A visão da Nintendo sobre os jogos se resume a uma única mensagem: inovação acessível para todos. Os sistemas de capitânia da companhia - Nintendo DS e Wii - prosperam na criação de formas únicas de interação com os jogos em vez de visuais de ponta. Hecker foi rápido ao ridicularizar o Wii como "nada mais do que dois GameCubes colados com fita adesiva". Isto, naturalmente, é uma queixa comum do Wii: lhe falta o verdadeiro poder da próxima geração. "Não fazemos especificações de hardware", a Nintendo responde tipicamente. "Estamos criando novas maneiras de jogar video games a preço de mercado". Por essa tarefa, a Nintendo merece apreciação, pois conseguiu criar um portátil com uma inovativa touch-screen e um console sensível a movimentos.

Hecker, no entanto, está certo quando diz que o avanço da arte não é um ponto forte da visão corporativa da Nintendo. No espectro entre o marketing artístico e o de massa, Nintendo claramente faz parte do marketing de massa. Mas isso não quer dizer que os jogos da Nintendo são desprovidos de paixão artística. Varios títulos de primeiro e segundo partido (party) remontam à era do GameCube pra mostrar um grande talento para o visual, desde as localidades assombradas de Eternal Darkness até as inesquecíveis águas em cel-shade de Wind Waker. Outros títulos da Nintendo como os jogos Pikmin, a série Fire Emblem, Animal Crossing, Battalion Wars e Chibi-Robo nos deram mundos únicos e distintos. Mesmo Twilight Princess criou um dos ambientes mais largos e memoráveis da memória recente.

Além disso, a Nintendo tem dado um forte apoio aos esforços artísticos e third-parties, de Elite Beat Agents e Phoenix Wright a Baten Kaitos e Killer7. Mesmo assim, a Nintendo reconhecidamente não favorece a arte acima de diversão. A Nintendo vê que uma boa direção de arte é importante, mas secundária ao prazer puro do jogo.

Hideo Kojima, criador da série Metal Gear, assumiu que comparar jogos com a arte é problemático. "È o seguinte", ele explica, "a arte é algo que irradia o artista, a pessoa que cria aquela obra de arte. Se 100 pessoas estão presentes e uma única pessoa é cativada por que quer que aquele pedaço irradia, é arte. Mas os video games não estão tentando capturar uma pessoa. Um video game tem que se certificar de que todas as 100 pessoas que jogam o game vão gostar do serviço providenciado por ele. É um tipo de serviço. Não é arte. Mas acho que a forma de prestar serviço com aquele video game é um estilo artístico, uma forma de arte.

Eu não culpo Kamiya e Hecker por desafiar os desenvolvedores a empurrar o envelope da arte e estilo. Seus respectivos projetos (Okami e Spore), certamente o fizeram, e que só pode beneficiar o resto de nós. Ao mesmo tempo, a crítica de Hecker é um tanto quanto auto-destrutiva. Afinal, o jogo deve ser divertido para atrair os consumidores a comprá-lo e sustentar o desenvolver que o fez em primeiro lugar. Além disso, tais comentários também ignoram o modo único no qual o DS e o Wii se aproximam da arte, algo que não pode ser julgado improcedentemente. Com esses sistemas, a Nintendo está fazendo algo que transcende o meio artístico, criando novas e diferentes maneiras de interagir com, mergulhar e explorar a arte. A Sony e a Microsoft estão criando trabalhos muito bons em seus sistemas, mas a Nintendo está nos deixando tocar na tela.

Dito isto, a reação da multidão em direção à crítica de Hecker parece ser um tanto quando desajustada. Há uma tendência entre os jogadores de não aceitar críticas dos Kamiyas e Heckers espalhados pelo mundo ao invés de considerar o que eles dizem. Adotando uma abordagem mais pragmática, se Kamiya e Hecker pudessem colocar um desenvolvedor para fazer jogos mais visualmente atraentes na Nintendo, então somos nós - a legião de jogadores - que ganhamos.
Eduardo Jardim

Natural de São Paulo (SP), Eduardo "Pengor" Jardim é um criador de conteúdo, ilustrador e imaginauta. Criou o Reino do Cogumelo em 2007 e desde então administra e atualiza seu conteúdo, conquistando dois prêmios Top Blog e passagens pela saudosa Nintendo World.

6 Comentários

  1. Esse tal de Chris Hecker é louco!
    Qualquer jogo que se prese tem que ser divertido em primeiríssimo lugar! Se quisermos ver arte, vamos ao museu, e não (ao inves disso) compramos um video-game.
    E esqueceu de falar do Mario Galaxy que tem a abertura mais linda do mundo(ou universo).

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  2. Só a abertura?

    Mario Galaxy é o jogo mais bonito do mundo, Mario Galaxy é arte. Muito mais arte do que Spore e tanto quanto Okami.

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  3. ótima postagem.Deviam daqui um tempo colocar no baú de tesouros.

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  4. Com todo respeito, mas esse cara é idiota?

    Pois é na maioria dos jogos da Nintendo que eu encontro arte. São estes jogos que eu realmente sou capaz de fruir, não só jogar. Mario Galaxy, por exemplo, não é só pra jogar, mas pra experimentar, fruir, viver a experiência (me faltam palavras).

    Temos que pensar um pouco e perceber que a arte nos games não é puramente assistir ou ouvir. É interagir e se emocionar também. E é no equilíbrio desses elementos que se encontra a verdadeira arte dos games. E eu, na tentativa mais sincera de ser imparcial, encontro isso muito mais com a Nintendo.

    E a Nintendo aumenta cada vez mais as possibilidades de interação. A poderosa stylus do DS e o Wiimote estão aí pra isso. Sem falar que agora, principalmente com motion plus, até a expressão corporal conta! É você fazendo arte em frente à tv (vocês deviam o pessoal aqui em casa jogando Resort... Ação, drama, comédia, tudo junto)

    Poderia fazer uma lista bem grande de exemplos aqui, mas vou citar apenas Mario Galaxy (como bem disseram nossos amigos acima) e Metroid Prime Trilogy. O que falar diante de verdadeiras obras de arte como essas?

    Abraços!

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  5. Esse cara é Maluco...
    É só uma desculpa para falar mal da Nintendo (como muito tentaram)...
    Tenho essa conclusão só de olhar para a frase "nada mais do que dois GameCubes colados com fita adesiva".
    Esse Hecker é só mais um cara invejoso...

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  6. esse disgramado que teve a audacia de chamar o nintendo wii de 2 game cube colados com fita adesiva não passa de um trmendo invejoso pois o nintendo wii eo video game de maior sucesso dos ultimos tempos e realmente video game não e para ter arte e sim tanta diversão que quebramos a manete de tanto jogar,sem falar no spore que não te nada de arte e ele vem falar do nosso querido wii.

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