Review: New Super Mario Bros. 2 (3DS) é um jogo de ouro no quesito nostalgia e level design


Anunciado durante a apresentação da Nintendo na E3 2012, New Super Mario Bros. 2, lançado em 19 de agosto de 2012 para o saudoso Nintendo 3DS (tanto em versão física como digital) já era descrito como uma jornada bastante familiar para os fãs da série, mas que ao mesmo passo apresentava novidades em vários aspectos — que vão desde o meticuloso design das fases até o foco geral do game: a coleta de moedas.

De fato, apesar da introdução de novos desafios ao longo das fases e da emocionante reentrada de elementos nostálgicos perdidos no começo dos anos '90, tudo em New Super Mario Bros. 2 gira em torno do recorde de moedas obtidas durante sua gameplay.


Nós do Reino do Cogumelo analisamos um dos mais reluzentes títulos da série New Super Mario Bros. e exporemos o nosso veredito final sobre o título. Nesta portátil corrida do ouro, será que o game consegue se dar bem?

Descobrindo o ouro: a história de New Super Mario Bros. 2

Num dia qualquer no Reino Cogumelo, os superirmãos Mario se encontram com a gentil e caritativa princesa Peach. Por um breve período de tempo, os encanadores extraordinários decidem conquistar os céus com seus poderes de guaxinim para relembrar os velhos tempos e coletar algumas moedas perdidas em áreas remotas da atmosfera.

Ao retornarem à terra firme, no entanto, um incomum momento de ausência da benigna monarca dos cogumelos transforma-se em mais uma investida dos Koopalings, os capangas de Bowser, que a sequestram a bordo da sempre nostálgica Cápsula Koopalhaço. É quando Mario e Luigi assumem mais uma jornada pelas cercanias do reino para resgatar Peach dos terríveis vilões e impedir que os tiranos Koopas e seus guardiões selvagens Reznor continuem disseminando o caos pelo mundo.

Aqui vamos nós! • Reprodução/Nintendo

Como se nota, assim como é costumeiro aos jogos de plataforma do Mario, a lore continua a mais básica possível — um brevíssimo chamado à ação. Portanto, ainda não há como explicar narrativamente a profusão abundante de moedas douradas neste game, mas podemos assumir que elas sempre estiveram lá, esperando o momento certo de se manifestar. Se houve algo específico para ativar essas reações, é algo que certamente não passou pela cabeça dos desenvolvedores; a nós, cabe apenas nos divertir com o que New Super Mario Bros. 2 tem a oferecer e deixar a lógica para que o Wario tente descobrir!

A corrida do ouro: as moedas como core mechanic de um jogo do Mario

Coins, coins, coins! Em New Super Mario Bros. 2, não importa o que você faça, onde você pise ou sequer o que você respira, isso sempre acarretará a coleta de moedas. Os games do bigodudo sempre possibilitaram o acúmulo de moedas — um dos mais notórios deles sendo Super Mario World (1990), no qual é possível coletar centenas de moedas em determinadas porções de uma só fase —, mas nunca houve nada tão abundante quanto nesta aventura de 3DS.

O que nos faz refletir: antigamente, as moedas do Mario tinham uma valorização muito maior. Somente quem já desbravou a jornada original de Super Mario Bros. (1985) entende o sentido mais rudimentar, e logo a necessidade, da mecânica, e sabe o quanto era importante obter no mínimo 10 moedas em cada um dos tijolos escondidos que o tornavam possível. A essencialidade das vidas extras é um conceito cada vez mais escasso no universo do Mario, e New Super Mario Bros. 2 nos introduz a uma realidade onde um jogo pode ser zerado com centenas de vidas extras remanescentes — uma contagem praticamente indiferente ao número de vezes em que o encanador foi de arrasta para cima.

Mesmo assim, não há muito que reclamar do excesso de moedas em um jogo do Mario, especialmente por se tratar de uma mecânica muito satisfatória. Embora a impossibilidade absoluta de coletar todas as moedas que pipocam na tela possa ser um gatilho para os jogadores mais completistas, tentar fazê-lo ainda torna as coisas muito divertidas.

O objetivo aqui é a obtenção de 1 milhão de moedas. Os números seriam registrados não somente no Nintendo 3DS, como também no modo Worldwide Coin Rush alimentado pela função SpotPass do sistema. No auge do portátil, esta era uma forma efetiva de reunir os fãs de Mario do mundo todo numa só conquista.


New Super Mario Bros. 2 fará o impossível para colocar nossos heróis de classe operária na lista dos maiores magnatas do mundo. Isso se dá por uma preciosa combinação de itens, superpoderes e inimigos. Moedas especiais como as Red Coins, as 10 Gold Coins, as 100 Gold Coins e até mesmo as Crown Coins — que só podem ser obtidas por meio da funcionalidade StreetPass e valem nada menos que 1000 unidades — existem com o propósito solo de aumentar o seu placar. A então nova e espetacular Gold Flower é capaz de conceder, com poderosíssimo impacto, a conversão de pilhas infindáveis de blocos e inimigos em uma paisagem repleta de moedas flutuantes.

Quando acionado, o Gold Ring transforma todos os inimigos ao redor em estátuas ambulantes de puro ouro líquido; neste estado, as vítimas de Midas podem reagir de formas diferentes — variando conforme a espécie. Por exemplo, o casco de um Gold Koopa deixará um rastro de moedas por onde passar quando for chutado. As Gold Piranha Plants, além de serem o sonho de consumo de qualquer paisagista, quando derrotadas, ativam a explosão de uma cadeia de moedas partindo do lugar onde estavam instaladas. Lakitus e irmãos Martelo de ouro passarão a arremessar moedas ao invés de seus projéteis — Espetos e martelos, respectivamente —, e Bill balas/Banzai Bills, Cheep-Cheeps e Bus/Big Boos deixarão uma trilha de moedas por onde quer que passarem. Tudo isso por tempo limitado, mas é absolutamente incrível o que o jogo permite que o jogador conquiste em apenas alguns poucos segundos.

Nenhuma dessas combinações seria efetiva sem o esmerado level design do jogo; este é possivelmente o aspecto mais forte de New Super Mario Bros. 2. Ao invés de aparecerem aleatoriamente, as moedas são sempre engatilhadas por alguma curiosa estratégia, seja com botões, deslocamento de objetos, uso de power-ups ou o simples ato de posicionar o Mario em lugares improváveis, como no topo de blocos altos.

Isso oferece recompensas muito boas aos jogadores mais sagazes, daqueles que sempre desconfiam que há um bloco invisível nos arredores do portão dos bosses, que sempre notam algo diferente na estrutura das formações rochosas e que conhecem a simetria das plataformas da série Mario, cientes da velha possibilidade de um novo pé de feijão brotar por ali. Aqueles jogadores de Donkey Kong Country, que sabiam em qual parte de Coral Capers encontravam-se os vãos para passagens secretas ao lado do fiel Enguarde. New Super Mario Bros. 2 foi desenvolvido para eles.

Inimizades de ouro: os vilões de New Super Mario Bros. 2


Diferente do que a Nintendo criou para Super Mario 3D Land, há poucas adições à enciclopédia do Mario no tocante a inimigos, personagens e obstáculos. A grande maioria dos oponentes dos irmãos bigodudos do Brooklyn em New Super Mario Bros. 2 é formada por vilões recorrentes e figurinhas carimbadas da franquia.

Em contraste, alguns deles emergiram à tona pelo bem do fator nostalgia, como é o caso dos Reznor, os tricerátopos gigantes que guardavam as fortalezas de Super Mario World e suas saudosas férias frustradas em 16 bits.

Excluindo as versões douradas de inimigos já conhecidos, os únicos oponentes que estrearam no game foram o gigantesco Boohemoth — um dos maiores Bus já criados da história e orgulhoso autor de um leve, mas inesquecível jumpscare —, os Mini Urchins, versões diminutas dos ouriços do mar nascidos em Super Mario World, e as versões "Bone", ou esqueléticas, de Goombas e plantas Piranha.

Anos dourados: o resgate de elementos nostálgicos em New Super Mario Bros. 2

Seguindo uma linha de pensamento frequentemente adotada pela Nintendo nos jogos do encanador extraordinário, o resgate da nostalgia foi uma das maiores apostas de New Super Mario Bros. 2.

Ao trazer de volta cenas que há muito já não eram mais utilizadas, como Bowser arremessando martelos, a transformação original de Raccoon Mario e sua barra de medição de energia P-Meter, ambos de Super Mario Bros. 3 (1988), backgrounds retirados diretamente da clássica Chocolate Island e a iconografia de uma lua sorridente (como as 3-Up Moons de Super Mario World), o jogo é uma máquina do tempo definitiva que te renderá o prazer de chafurdar nas memórias de videogame mais divertidas que sua mente armazenou ao longo das últimas décadas.

New Super Mario Bros. 2 homenageia o background das fases da Chocolate Island de Super Mario World (1990)

O veredito do Reino do Cogumelo

New Super Mario Bros. 2 é um dos jogos do Mario com maior excelência nos quesitos de level design e elementos nostálgicos voltados aos saudosistas dos anos 90. Infelizmente, conta com uma longevidade extremamente reduzida, podendo ser finalizado em aproximadamente cinco horas de gameplay. O modo Coin Rush, habilitado por conexão StreetPass, é o maior responsável pelo ar de longevidade do título.

Deve levar crédito pelo modo multiplayer cooperativo em que dois jogadores percorrem as mesmas fases simultaneamente como Mario e Luigi — exigindo, é claro, a existência de duas cópias do game para a ativação sucedida do wireless local. Não obstante, totalmente diferente de New Super Mario Bros. Wii — que parece ter sido construído desde o zero para satisfazer o modo multiplayer —, a aventura a dois de New Super Mario Bros. 2 é desfocada e restrita, e um elemento tratado como praticamente dispensável.

Os visuais são ótimos, mas o uso do 3D é questionável. A escolha de embaçar o plano de fundo o torna tão supérfluo que os detalhes da aventura podem ser muito melhor aproveitados sem ele — levantando uma questão sobre o porquê de New Super Mario Bros. 2 sequer ter essa função.


O maior alvo de críticas negativas do game foi o áudio, que consiste basicamente de músicas recicladas de New Super Mario Bros. (2006) e New Super Mario Bros. Wii (2009). Após tanto tempo escutando as mesmas melodias, sejam de desertos, fortalezas ou Ghost Houses, a experiência de jogo pode tornar-se passiva de incômodo e rejeição. Mas nem tudo está perdido! Nossos ouvidos ainda agradecem pelas novas batidas adicionadas às músicas antigas e pelo frescor de novas trilhas sonoras, como o tema de World Flower, um dos mapas secretos do game, que hoje ilustra a biblioteca sonora dos superirmãos como um dos temas mais puros e salutares da história.

Mesmo com alguns pontos a pesar, uma coisa é certa: New Super Mario Bros. 2 é um jogo carregado com a definição de toda a franquia. Pode até não valer ouro, mas carrega uma essência de valor inestimável.

Muito julgado por falta de inovação e originalidade, New Super Mario Bros. 2 é na verdade um jogo de ouro no quesito nostalgia e level design.

Eduardo Jardim

Natural de São Paulo (SP), Eduardo "Pengor" Jardim é um criador de conteúdo, ilustrador e imaginauta. Criou o Reino do Cogumelo em 2007 e desde então administra e atualiza seu conteúdo, conquistando dois prêmios Top Blog e passagens pela saudosa Nintendo World.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem