Crítica: Super Mario Bros. O Filme é um prático, mas grandioso, banquete de fan service

Imagem: Divulgação/Nintendo/Universal Pictures/Illumination

Prometido desde janeiro de 2018, Super Mario Bros. O Filme, assim como os jogos nos quais é inspirado, tem passado por muitas fases: começou como um combustível para especulações de fãs, confrontando as primeiras críticas quando o elenco de voz foi revelado pela Nintendo e culminando na recente fase das revelações — na qual os primeiros trailers foram seguidos por uma intensa descarga de comerciais, cartazes, clipes e estratégias de merchandising de toda a sorte.

E hoje, o longa-metragem animado que reflete a parceria entre as gigantes do entretenimento Nintendo e Illumination já se tornou a maior estreia da história dos filmes de animação.

Após a triste recusa de um convite da Universal Pictures Brasil devido a conflitos na agenda, nós do Reino do Cogumelo finalmente tivemos a chance de assistir e dar o nosso veredito sobre sua tão aguardada produção, que depois de um extensivo período de contagem regressiva, finalmente está em cartaz nos cinemas de todo o mundo. É isso aí!

Crítica: Super Mario Bros. O Filme

Imagem: Reprodução/Nintendo/Universal Pictures/Illumination

O longa-metragem de animação é focado nos jovens irmãos Mario e Luigi, que decidiram abandonar seus empregos estáveis para engajar em seu próprio empreendimento — a Super Mario Bros. Encanadores. As coisas começam a tomar um rumo inesperado quando eles são sugados por um estranho cano verde em uma intrincada rede de tubulações subterrânea do Brooklyn, sendo separados durante a travessia; Mario, rumo ao multicolorido Reino Cogumelo, e Luigi, afortunadamente, no Reino das Sombras, onde é capturado pelo exército de Bowser.

Como já era de se esperar, Super Mario Bros. O Filme entrega tudo aquilo a que se propõe: um universo inteiro de referências carinhosas aos videogames da Nintendo que, para os fãs, é um prato cheio de macarronada com cogumelos.

É quase impossível que um jogador assíduo da franquia não capture a maior parte dos brindes à nostalgia que são oferecidos em várias cenas; sejam os mais escancarados, como aos jogos Kid Icarus (1986), Punch-Out!! (1987) e Donkey Kong (1981), até os Easter eggs e insinuações mais sutis, como as alusões visuais ao World 1-1 de Super Mario Bros. (1985) enquanto Mario e Luigi se apressam para consertar o gigantesco vazamento do Brooklyn, ou ao nome talhado no piano de Bowser, onde se lê "Ludwig von Koopa" — como é chamado um de seus mais populares Koopalings.

É tão extensa a fonte da qual bebe o filme que suas referências vão do clássico de fliperamas Donkey Kong (1981) até Super Mario Odyssey (2017), dando um pulinho no programa híbrido de televisão de 1989 The Super Mario Bros. Super Show! — de onde pega emprestado o jingle da Mario Bros. Plumbing de outrora. Não há dúvidas de que o filme foi produzido de fãs para fãs, respeitando aspectos importantes da história do bombeiro hidráulico da Nintendo.

Imagem: Reprodução/Nintendo/Universal Pictures/Illumination

Todas essas conexões aos jogos do Mario, tanto clássicos quanto os mais modernos, são o maior trunfo de Super Mario Bros. O Filme, pois levam os espectadores a uma viagem de kart pelos mais longínquos confins de suas memórias afetivas. E de fato, a animação é construída na segurança total de agradar aos gamers de várias gerações com suas incansáveis alusões a conceitos de hardware e software que temos consumido na franquia Mario ao longo de seus mais de 40 anos de história.

Além da fidelidade aos games, Super Mario Bros. O Filme é um verdadeiro superespetáculo em relação aos visuais, à qualidade da animação, e principalmente à trilha sonora — belíssimos arranjos de Brian Tyler em colaboração direta com o lendário Koji Kondo, criador das mais icônicas melodias dos jogos do encanador.

Mas o quesito sonoro também traz alguns pontos de controvérsia. Primeiro, o famoso compositor Grant Kirkhope não foi devidamente creditado como autor da DK Rap, tema de Donkey Kong 64 que toca no filme. Em segundo lugar, o produto final substitui algumas destas magníficas sequências por músicas populares, como Take on Me, do a-ha, Mr. Blue Sky, do Electric Light Orchestra, Thunderstruck, do AC/DC, e, claro, Holding Out for a Hero, de Bonnie Tyler — esta última, já bastante estampada em filmes como Pokémon: Detetive Pikachu, Angry Birds 2: O Filme e Shazam! Fúria dos Deuses.

Imagem: Reprodução/Nintendo/Universal Pictures/Illumination

E por falar em trilha sonora, a cada vez em que o ator e músico Jack Black dá as caras em eventos promocionais, a precisão de sua inclusão como intérprete do Bowser é reiterada — especialmente com a fervorosa canção "Peaches", que já vem sendo amplamente divulgada pela Universal Pictures.

No Brasil, o filme foi dublado sem Star Talents pelo estúdio Delart, dando grande destaque para a dupla Raphael Rossatto e Manolo Rey, que interpretaram Mario e Luigi, respectivamente, de modo muito próximo às suas contrapartes dos jogos a quem o talentosíssimo Charles Martinet cede a voz já há cerca de 30 anos.

Charles, por sua vez, teve não somente um, mas dois papéis no filme, e sua voz também pode ser escutada brevemente na versão dublada em português. Uma de suas participações possui nítidas referências históricas, embora seu personagem seja, por natureza, uma paródia de si mesmo. Não há dúvidas que o autointitulado "bom garoto italiano" merecesse um papel de maior destaque no filme — mas hoje, passado tempo mais que suficiente para superar sua substituição por superestrelas de Hollywood, a natureza de sua inclusão da forma como aconteceu vem sendo de grande aceite público.

Apresentação conta!

Imagem: Reprodução/Nintendo/Universal Pictures/Illumination

Com relação à caracterização, a maioria dos personagens dos games está muito bem representada em Super Mario Bros. O Filme. A química fraternal entre Mario e Luigi é de aquecer o coração, o Toad carrega o legado de Oberdan Júnior e seus cacos cômicos na dublagem Herbert Richers dos desenhos animados da Dic e a princesa Peach é uma recriação fiel de sua versão impressa na HQ Super Mario Adventures, trazida periodicamente à revista Nintendo Power em 1992 pelos quadrinistas Kentaro Takekuma e Charlie Nozawa.

Adaptações foram feitas, mas elas não deixam de fazer sentido. Lumalee, por exemplo, recebeu no filme uma personalidade insana e distorcida, compartilhando entre seus colegas de cativeiro conceitos sombrios como a aceitação do "doce alívio da morte" — um gatilho de contraste cômico muito divertido, mas que a princípio pode não ser muito apropriado para Hungry Lumas, criaturas de Super Mario Galaxy (2007) intimamente ligadas à manutenção do universo. Por outro lado, talvez tenha sido justamente a atmosfera filosófica da ópera especial para Nintendo Wii que levou a criaturinha a abraçar a crise existencial durante sua aflição.

Em outro caso, o Donkey Kong aqui representado é muito mais "biscoiteiro" e bem menos sensato que sua versão da série animada de 1996 Donkey Kong Country; mas no contexto, o fervor de sua juventude é um instrumento essencial para alguns dos mais divertidos diálogos do filme e para a sua breve, mas significante, jornada de desenvolvimento pessoal. Faz teu nome, Donkey Kong!

E há quem encontre dissonância entre o Bowser mostrado nos trailers e suas verdadeiras motivações conforme reveladas no filme; mas estas, são legado fiel de várias obras da franquia, como o action RPG Super Paper Mario (2007) e o aclamado platformer 3D Super Mario Odyssey (2017). Logo, todas as representações dos personagens possuem pretextos interessantes para ser.

Problemas de roteiro, enredo e pacing?

Imagem: Reprodução/Nintendo/Universal Pictures/Illumination

O filme é muito fiel à fonte, mas é preciso compreender o que isso também pode significar: que seu roteiro não possui muitas camadas de profundidade, sendo compensado por gracejos e conveniências. Esta foi a maior controvérsia inicial entre os críticos da Sétima Arte. Super Mario Bros. O Filme é literalmente um chamado à ação.

E neste chamado, nada é significantemente questionado por seus personagens. Logo, se o objetivo do espectador for aprofundar seu conhecimento sobre a lore de Super Mario, as origens de seus personagens e os mistérios que compõem aquele universo, este provavelmente não será o momento. Nada é necessariamente professorado aos fãs da franquia, já que o filme aposta na apresentação prática da atmosfera do reino de uma forma tão natural que, de fato, não suscita questionamentos; as coisas são como são, práticas, breves e sem brechas para interrogações narrativas. Afinal de contas, não há tempo a perder quando seu irmão está em apuros.

O ritmo do filme, no entanto, parece ter sofrido do mesmo mal que acomete filmes de animação com uma certa frequência: ser condensado pelo tempo total de duração. Em certos momentos, alguns personagens são obrigados a tomar decisões rápidas. Cenas como a do Mario conhecendo o Toad pela primeira vez nas colinas do reino, a reconciliação do bigodudo com o Donkey Kong e até mesmo a cena de encerramento após a última batalha parecem acelerar instintivamente rumo à sua própria conclusão — o que nos faz questionar sobre quanto do filme foi removido do corte final.

Acontece que nenhum desses pesares é o bastante para superar todos os pontos positivos do filme. Inclusive, essa brevidade de Super Mario Bros. O Filme é justamente o que garante seu fator replay: nos faz querer assistir à trama de novo e de novo para absorvê-la ainda mais, sempre com maior carinho, emoção e atenção aos detalhes.

Mamma mia! O veredito do Reino

No fim das contas, Super Mario Bros. O Filme é uma caixa de itens repleta de surpresas positivas, em especial as sensações que é capaz de despertar no coração de qualquer um que já tenha jogado pelo menos um título do Mario ao longo de sua vida. E para quem ainda não o fez, mesmo assim, o filme ainda é uma aventura invencível idealizada e produzida durante vários anos com muito carinho para todas as idades, acompanhada de uma passagem de entrada para qualquer um que esteja interessado em se aprofundar no universo Nintendo.

Essencialmente, há pouquíssima coisa que poderia tornar Super Mario Bros. O Filme melhor do que realmente é. Esta é seguramente a adaptação licenciada pela qual os fãs têm esperado a vida toda; um sonho realizado, tão prático quanto grandioso.

Uma aventura tão prática quanto grandiosa, Super Mario Bros. O Filme é um prato de fan service que se consome rapidamente.
Eduardo Jardim

Natural de São Paulo (SP), Eduardo "Pengor" Jardim é um criador de conteúdo, ilustrador e imaginauta. Criou o Reino do Cogumelo em 2007 e desde então administra e atualiza seu conteúdo, conquistando dois prêmios Top Blog e passagens pela saudosa Nintendo World.

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