Jogos Como Arte

Na conferência Art History of Games, Tale of Tales, o estúdio por trás de The Path, discute que "jogos não são arte", e "grandemente uma perda de tempo" Enquanto isso, uma professora examina a colisão entre os jogos e a arte.
Tale of Tales nunca teve vergonha de fazer afirmações sólidas. Na conferência que ocorreu semana passada "Art History of Games", em Atlanta, Georgia, Michael Samyn e Auriea Harvey, que também trabalharam em The Path, um "jogo artístico" feito para PC em 2009, afirmaram sobre o porquê dos vídeo games não serem uma obra de arte, e sobre as duas coisas nunca se envolverem.

"Uma coisa que precisa ser dita antes de tudo, nós não estamos tentando encaixá-lo no propósito", disse Samyn. Ao invés disso, eles tentaram encontrar um lugar para encaixar a Tale of Tales na indústria dos jogos, mas nunca encontraram. Samyn e Harvey listaram os problemas que eles têm com jogos. Para eles, jogos não são bonitos o suficiente, ou imersivos ou acolhedores o bastante a uma audiência maior.

Harvey anunciou, "alguns dos membros da audiência estão confusos", conforme mostrava um slide apresentando a frase "JOGOS NÃO SÃO ARTE". Então, Samyn discutiu que os jogos eram direcionados a uma necessidade biológica; a arte não foi criada a partir de uma necessidade física, mas em uma busca por propósitos maiores.

Infelizmente, de acordo com Harvey, a arte está morta. Após a ascenção do Modernismo, a arte tem sido cooptada pelo capitalismo e formas restitivas de governo. Os vocais dizem que os artistas verdadeiros não estavam mais trabalhando no mundo da arte, mas ao invés disso, experimentando os cantos mais inexplorados da internet. Samyn ainda cavou mais fundo, dizendo que "apesar de algumas poucas tentativas nobres, os video games são uma completa perda de tempo". Os video games pararam de evoluir, continuou Samyn, por falta de direção.

Em seguida, Samyn anunciou que eles, da Tale of Tales, não poderiam ser parados; eles continuariam pegando jogos e rasgando suas "regras estúpidas" e objetivos. Ele prometeu que após eviscerar os jogos, eles respirariam uma nova vida sobre a carcaça, criando algo novo. Harvey concluiu, "faça amor, não faça jogos". Os dois criadores também anunciaram que começarão um projeto para mostrar às pessoas do mundo todo sobre o que eles chamam de "não-jogos". O movimento seria mantido numa série de blogs e fórums, conversações de destaque, screenshots de projetos, assim como festivais com regras particulares pra guiar a produção destes novos "não-jogos".

Os trabalhos da Tale of Tales incluem The Path, seu primeiro "anti-game" Endless Forest, Fatale, e seu primeiro projeto pra iPhone, Vanitas.

Quando a arte e os jogos colidem


Enquando o assunto da arte e os jogos tem sido motivo de muitas discussões, muitas vezes elas se fazem sem compilar uma lista de exemplos diferentes dentro dos quais os dois mundos colidiram. Na conferência Art History of Games, a professora Celia Pierce tentou fazer isso, com uma longa pesquisa de participação e jogos artísticos desde o começo do século 20 até o dia presente.

Aparecendo em várias palestras, Pierce esclareceu a conexão entre o famoso artista, Marcel Duchamp, e os jogos. Notoriamente obcecado por xadrez, o artista francês também faz arte como se fosse um jogo, muitas vezes jogado com restrições, tal como pintar um quadro inteiro vesgo. Apontando aos ready-mades de Duchamp - peças já fabricada que simplesmente levam a assinatura de Duchamp, incluindo uma roda de bicicleta e até mesmo um urinol -, Pierce destacou que "o processo dos ready-mades era mais importante do que seus status como objetos".

Tocando no movimento Fluxus, Pierce conversou sobre o compositor John Cage, que costumava dar a si mesmo conjuntos de regras de como executar suas peças diferentes, chegando ao ponto de modificar fisicamente os pianos nos quais tocaria. Um amigo e colaborador de John Cage era David Tudor, que construiria instrumentos musicais a partir de dispositivos eletrônicos que não foram feitos pra produzir música.

"Isto é arte lúdica", salientou Pierce, "não necessariamente jogos, mas divertimento estruturado".

Pierce tocou em perspectivas mais modernas no design de jogos, tais como o New Games Movement (Movimento de Novos Jogos), que criou jogos ao ar livre que não foram diretamente competitivos. Pierce está ligada ao trabalho de Frank Lantz, o co-fundador do estúdio de jogos area/code, que criou jogos como Pac Manhattan, no qual video games familiares e tipos de jogos eram escalados ao ponto de começarem a se parecer com um desempenho de peças de artes.

Paralelo ao New Games Movement, está o começo da arte dos video games, como no jogo Alien Garden, que foi projetado por Bernie DeKoven e programado por Jaron Lanier. Mods e hacks também representaram um papel enorme nas primeiras artes dos video games. Uma das primeiras exibições da arte dos video games foi na verdade um programa online chamado "Cracking the Maze", que incluiu, entre outras peças, a modificação de jogos diferentes para adicionar personagens femininas.

Curiosamente, disse Pierce, ao mesmo tempo, Counter-Strike, um mod de Half-Life que não é considerado jogo de arte, mostra que os mods de jogos realmente podem ser mais populares do que os jogos modificados. As duas perspectivas sobre moding colidiram, no entanto, com a peça artística "Velvet Strike", que permitia que a arma do jogador disparasse grafite em todas as paredes durante uma partida de CS.

Finalmente, Pierce apontou ao recente e forte vão entre os jogos de arte e os jogos independentes. Trabalhos como Unfinished Swan, Gravitation, Moon Stories e The Path são todos os herdeiros de uma longa tradição de arte e jogos. Este encontro entre o movimento dos jogos de arte e o movimento dos jogos independentes é importante pra trazer os jogos de arte para mais pessoas e encontrar mais possibilidades de explorar jogos independentes.
Eduardo Jardim

Natural de São Paulo (SP), Eduardo "Pengor" Jardim é um criador de conteúdo, ilustrador e imaginauta. Criou o Reino do Cogumelo em 2007 e desde então administra e atualiza seu conteúdo, conquistando dois prêmios Top Blog e passagens pela saudosa Nintendo World.

2 Comentários

  1. Hm... Eu já não concordo. A arte está presente sim nos jogos! Mario Galaxy e Okami são exemplos disso. As cores, as formas... Tudo perfeito.

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  2. William_Soares,

    Arte é mais do que imagem. Os jogos até agora exploraram uma dimensão restrita das artes: as artes visuais. Há muito mais do que ação, aventura, adrenalina, competição, desafio, coordenação motora, raciocínio lógico, escolhas, historinhas heróicas... É possível criar jogos sobre todo o espectro que as artes abrangem, por exemplo: o sagrado, a natureza humana, questões sociológicas, antropológicas, filosóficas (não filosofia de buteco), e tudo mais que os jogos comerciais, assim como as grande produções de entretenimento em massa, ainda não valorizam, porque não há mercado. O consumidor ainda quer fórmulas prontas ligeiramente modificadas. Se Um jogo inova um pouquinho, ele é genial. Se inova demais, é estranho, não vale a pena investir. E por aí vai.

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